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Visto da Janela

Um olhar sobre o mundo - o mais próximo e aquele mais distante. De quando em vez, ou sempre que haja um minuto para uma nota, breve, ou mais prolongada. Para aqueles que estejam dispostos a ler-me...

“Não podemos ignorar”

por vistodajanela, em 15.03.23

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A polémica instalou-se na sociedade quando não era expectável que isso acontecesse pela atitude positiva e construtiva que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assumira quando diligenciou a criação de uma Comissão Independente (CI), constituída por personalidades das áreas da saúde mental, da sociologia e do direito, entre outras, para investigar e analisar casos de abuso sexual no seio da Igreja Católica em Portugal. O trabalho da CI foi acompanhado com muito interesse. Os casos relatados na apresentação do trabalho desenvolvido criaram uma expectativa a todos sobre o que aconteceria depois.

É natural a estupefação de muitos quando assistiram à Conferência de Imprensa em que D. José Ornelas apresentou as conclusões e o caminho a seguir. Estupefação e desilusão. Não estranhei quando ouvi o Dr. Daniel Sampaio evocar na Antena 1 o poema de Sofia de Mello Breyner Andersen que Francisco Fanhais musicou – “Vemos, ouvimos e lemos/Não podemos ignorar”. E ocorreu-me ser esta uma das várias canções que criaram no espírito de muitos portugueses a ânsia por um país livre e democrático. Nas palavras do porta-vos da CEP – nem parecia o antigo Bispo de Setúbal - depressa se encontrou um apoio não às vítimas, de que tanto precisam, mas aos abusadores, um alijar de responsabilidades para se encontrarem soluções de apoio psicológico e psiquiátrico aos que ousaram falar, passados vários anos, do que sofreram nas situações em que se viram envolvidos, assim como uma atitude defensiva e não pró-ativa suspendendo abusadores, clérigos ou leigos, ainda em atividade na Igreja. Suspender não é condenar. Laborinho Lúcio, membro da CI e ex-Ministro da Justiça foi levado a concluir, em sequência às afirmações havidas ali, que «a confiança das vítimas está, nesta altura, muito abalada», vítimas que deram voz ao silêncio. Passados anos, muitos, apelaram a que não se ignorasse. E não esquecemos que a Igreja Católica é uma instituição que é referência da civilização europeia.

Felizmente, nem todos se deixaram enlear pelos medos, nem encurralar na redoma que, tantas vezes, separa as hierarquias da realidade nua e crua da sua comunidade. E foram em frente. Évora e Angra do Heroísmo não hesitaram. Deram um importante contributo para que “nada possa apagar o concerto dos gritos”, que não podemos ignorar. Afinal, Igreja somos todos nós e, recorde-se, em ano de Sínodo que o Papa Francisco quis que se construísse em comunidade.

No Dia da Mulher, uma referência A Dona Antónia

por vistodajanela, em 08.03.23

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Nos tempos em que os bagos de uva não se podiam perder, os pais, aquando das vindimas no Douro, diziam aos filhos que a Ferreirinha (diminutivo por que é conhecida na região do Douro a Dona Antónia Adelaide Ferreira), fez 60 pipas de vinho só com bagos de uva(!).

Pois hoje apeteceu-me deixar aqui a minha homenagem às mulheres, lembrando a grande empresária do Douro no século XIX.

Retirei a seguinte passagem do site da Quinta do Vale Meão. Sei que o Dr Francisco Olazabal não vai levar a mal.

«Graças a uma combinação – rara para uma senhora dessa época – de visão, coragem, independência de espírito e empreendedorismo, desenvolveu de forma espectacular a empresa familiar, tornando-se na maior proprietária do Douro e dona de uma das maiores fortunas do país. 

Passou a maior parte da sua vida no Douro, levando uma vida simples e austera, dedicando uma boa parte da suas energias e recursos  na melhoria das condições de vida dos seus conterrâneos. Em 1855, quando o Douro foi assolado por um epidemia de cólera, escreveu:  “cada um na sua terra deve fazer tudo o que seja para bem da humanidade”

Um ano de guerra, muitos gestos solidários

por vistodajanela, em 01.03.23

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O aniversário que passou no passado dia 24, se nos lembrou o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, brutal como são todas as guerras, incompreensível e sem sentido também nos proporcionou a lembrança de que a solidariedade existe e pode ajudar a fazer deste mundo um sítio melhor para viver. A nós e aos outros, claro. Afinal, num mundo em que se tornou quase indispensável estar conectado com outros, é fundamental tomar consciência e assumir que todos fazemos parte deste mundo, que construímos, ou destruímos, a cada dia, com ações individuais e coletivas. É com esse sentido que se deve usar a palavra solidariedade, como uma grande rede em que todos podem dar e, ao mesmo tempo, estão aptos a receber. O objetivo é comum: fazer do mundo um lugar melhor para todos, independentemente de credo, cor, género ou classe social.

Se ano que passou foi pródigo em acontecimentos nefastos, em que os direitos humanos foram sistematicamente violados pelos invasores é sempre bom constatar o que de bom se foi fazendo em prol dos refugiados, dos deslocados, dos perseguidos e violados. Foram muitos e diversificados os gestos solidários. Na fuga à guerra, mas também na criação de condições para que a vida possa continuar nas suas próprias localidades. Concertos por cá, ou em cidades como Lviv, oferta do produto de vendas de músicas, o leilão de uma camisola CR7, iniciativas de estudantes de escolas, ou de cidadãos, simplesmente conscientes que este mundo é uma casa comum, onde todos temos o direito a viver com dignidade.

 Pela proximidade e porque evidencia a capacidade de trabalho em rede, envolvendo o município, juntas de freguesia, empresas e cidadãos a título individual, julgo poder destacar o que aconteceu em Sabrosa. Um grupo de trabalhadores da Câmara Municipal organizaram-se, contactaram empresas, as juntas de freguesia e outras vontades de ajudar e prepararam uma viagem de 3 500 km até à fronteira da Ucrânia. Levaram em duas carrinhas de 9 lugares medicamentos e produtos de higiene. Trouxeram 13 pessoas, 10 mulheres e 3 crianças que a guerra obrigara a fugir. A Câmara havia preparado uma escola, onde já não havia aulas, para os receber e providenciou o apoio inicial. Ali encontraram a casa que haviam perdido e uma comunidade que as recebeu e apoiou. Fizeram os registos necessários nos respetivos serviços públicos e o contrato emprego-inserção proporcionou alguma estabilidade. Fez-se um mundo um pouco melhor.

 

Douro Capital Europeia do Vinho 2023

por vistodajanela, em 18.02.23

 

 

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O Douro engalanou-se há dias numa segunda atividade da sua celebração como Capital Europeia do Vinho 2023, em Lamego. Uma primeira iniciativa tivera lugar em Carrazeda de Ansiães numa interessante ligação à cultura etnográfica. Que o Douro se afirme pelo vinho – primeira região demarcada e regulamentada do mundo -, pela cultura – Património da Humanidade, no seu 22º ano -, pelo turismo – destino que é e que se tem vindo a afirmar pelo enoturismo, pela gastronomia e pela paisagem que o homem do Douro foi construindo ao longo de séculos, numa obra de arte arquitetónica, é uma excelente opção. A merecer o nosso aplauso.

Há quem não esqueça nestes momentos de celebração os índices de desenvolvimento que fazem desta NUT III uma das que têm pior performance na União Europeia. Aliás, uma das três que, no Norte, estão em divergência com a média da região no que respeita a taxas de crescimento económico no pós-pandemia. Apesar de ser a região portuguesa com mais peso nas exportações de vinho, com destaque para o Vinho do Porto e com os vinhos DOC Douro a ver aumentada a sua procura. Houve Gala de Abertura, com nomes sonantes da música. Um deles, ouvi de um dos privilegiados que mereceu convite, a referir-se com grandes encómios aos produtores de vinho. Não sei se teve presente os que cavam, tesouram, despampam e vindimam, ou só os proprietários das quintas. Será, mesmo assim, digno de registo. E projetou-se uma Capital Europeia do Vinho a pensar “promover o Vinho e respetivos produtores nos países associados da RECEVIN - Rede Europeia das Cidades do Vinho, assim como no território europeu e internacional”. É importante, mesmo imprescindível, que assim seja. Um dos erros da região é pensar excessivamente ao nível de quinta, a olhar ao seu redor, quando hoje se impõe que “deste Marão se veja o Mundo”, com olhos de escritor que se projeta longe.

A Gala deu azo a lembrar personalidades que se evidenciaram em momentos específicos com ações em prole do Douro. Como não podia deixar de ser, distinguiram-se uns e esqueceram-se outros. Mas quando se envereda por não deixar no esquecimento figuras públicas que desempenharam as mais altas funções no país é necessário refletir mais um pouco em quem contemplar. Para receber galardão, assim como para testemunhar a sua entrega. Para que não se dê azo a melindres. Ou a injustiças. Ver o Mundo, no todo; ver todos, neste nosso pequeno mundo, será sempre o melhor caminho.

Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo recebeu 75.769 visitantes

por vistodajanela, em 13.02.23

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A Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, registrou em 2022 um total de 75.769 visitantes, com os turistas estrangeiros a ultrapassarem os nacionais.

Não estranhei esta notícia que o Google me fez chegar.

Aquando responsável pela Entidade Regional de Turismo do Douro, um francês que casou com uma senhora portuguesa, proprietário da Casa de Chá, mostrou vontade de me conhecer. E como o concelho de Figueira de Castelo Rodrigo tem uma freguesia na Região Demarcada do Douro, numa visita de trabalho ao Parque Natural do Douro Internacional fui visitá-lo. Pois bem! Casa cheia de turistas estrangeiros. Subiram o Douro num barco-hotel da Douro Azul. Estavam a quase 30 km do cais de acostagem.

Atenção! « Castelo Rodrigo é uma das 12 localidades da Rede das Aldeias Históricas de Portugal, que também abrange Almeida, Belmonte, Castelo Novo, Castelo Mendo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso.»

Que bom exemplo para os que têm que tratar do desenvolvimento do interior.

Porque urge preservar a memória

por vistodajanela, em 02.02.23

 

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A Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 1 de novembro de 2005, institui o dia 27 de janeiro como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Tinha por propósito não esquecer o genocídio em massa de seis milhões de judeus pelos nazis e é considerado um dos maiores crimes contra a Humanidade. Pretendeu-se, ainda, criar um momento para educar para a tolerância e a paz. Talvez porque já estamos algo distantes do que essa Memória não deixa esquecer, ou porque outras causas ou acontecimentos se mostram mais motivadores para a opinião pública é que o relevo na comunicação social não foi grande. Mas a educação para a paz e a tolerância têm hoje grande atualidade.

Procurando relembrar o que a História nos ensina, indaguei na 1ª metade do século XX o que poderia ter dado motivação para tanta atrocidade, que designamos por Holocausto – a morte de mais de seis milhões de judeus, em Campos de Concentração e de Trabalhos Forçados. Uma ideologia, o nazismo, marcada por um Estado com poder absoluto, pela proibição da liberdade de expressão, pelo nacionalismo e pela eugenia - aperfeiçoamento da raça humana através do controle reprodutivo e da eliminação de determinados grupos considerados inferiores. Coincidência. Nesse mesmo dia tinha início um evento partidário, organizado na sequência de uma imposição do Tribunal Constitucional que exigia uma alteração aos estatutos para que o líder não concentrasse tanto poder em si próprio. Afinal, a avaliar pela imprensa que acompanhou o evento, os estatutos não foram alterados. Voltou a vigorar uma versão anterior. Alterar porquê? terão pensado e decidido os ilustres dirigentes. Talvez por isso se tenham ouvido afirmações como “somos os melhores, somos os mais puros”, em sintonia com a sondagem que atribui à maioria dos seus militantes “visões racistas e xenófobas” e com o autor da proposta de acabar com a disciplina de Cidadania nas escolas. Também os que fizeram o holocausto assim pensavam. Ou os que há quase um ano invadiram a Ucrânia, que destroem, mas que chamavam um país “irmão” e queimam zonas residenciais como se fossem pontos estratégicos da guerra.

Sobram os motivos para trazer à memória o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Ficam neste apontamento alguns. No espírito da Resolução da ONU – educar para a tolerância e a paz. Afinal, hoje, bens inestimáveis.

Os ruídos e a realidade

por vistodajanela, em 19.01.23

 

 

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No momento em que escrevo este Visto está a decorrer uma manifestação de professores em Lisboa, descendo da Rotunda do Marquês pela Av. da Liberdade. Onde quer que esteja um dirigente partidário, faz-se eco deste e de outros acontecimentos que estiveram presentes na Comunicação Social (CS) do país nos últimos dias. Há quem estranhe, quem considere exagero, ou mesmo, totalmente desadequado e desajustado. O ruído criado à volta de certos episódios da governação está nesse grupo. Mas em democracia, o escrutínio da opinião pública deve ser considerado normal. Afinal, é o povo que elege. Exagerado será o eco que alguma CS faz de certos eventos ou situações, esquecendo outros, muitas vezes, em flagrante contradição com a realidade.

A greve é um direito que chegou com a democracia. Fazer manifestações é outro. Escrutinar os governantes nada tem de especial, se for feito com respeito pelos direitos de todos, inclusive, dos que estão a ser objeto de escrutínio. Informar é outro direito. Fazê-lo com objetividade, isenção e de forma fundamentada é um dever dos que assumem esse papel. Por tudo isto é que todos nós temos o direito de questionar uma greve à 1ª hora de aulas, sabendo que os pais podem não levar os filhos à escola com receio de os deixar sós. Angariar fundos para pagar os dias de greve também provoca interrogações - e de outros profissionais?!... Os sindicatos mais parecem numa disputa de quem puxa mais a corda!

Um professor, tal como outro trabalhador, que está em situação de precariedade dez ou quinze anos mostra que há uma evidente situação de injustiça. Fazer trabalhos burocráticos em vez de dispor de tempo para preparar as aulas também elucida que “algo vai mal no reino da Dinamarca”. Mas se o Ministro afirma e escreve que há um processo negocial e pretende que continue, não se compreendem nem os acampamentos, nem a gritaria, eivada de populismo, de um qualquer dirigente sindical. O mesmo se diga das pequenas, ou grandes que sejam, situações que levam à demissão de governantes. Estranha-se, isso sim, que não se dê igual atenção aos sucessos dos portugueses, porque é um esforço de governantes e de governados, quando se sabe, por exemplo, que Portugal foi o 2º país da Europa cuja economia mais cresceu o ano passado, o maior crescimento desde 1990; está a baixar, e muito, a sua dívida soberana; o rendimento médio das famílias subiu 18,4% comparativamente a 2015. Há muita coisa em que o ruído não se coaduna com a realidade.

 

Que renasça a esperança no Natal

por vistodajanela, em 29.12.22

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É habitual e não valerá muito a pena lutar contra moinhos de vento. Eles sempre se agigantam, ou iludem. Será uma atitude inteligente, sei lá, em muitos casos, mesmo algo corajosa, ser capaz de os enfrentar. Não os que iludiram D. Quixote, que o escudeiro bem identificou. Outros, que nesta época do ano tendem a enlear-nos, enredando-nos no consumismo, toldando a nossa visão, dificultando, ou impedindo mesmo o ver mais além, de forma clara, objetiva e enriquecedora. Por aqui, o “amigo secreto” ajudou a dosear alguns desses devaneios. Pois a propósito deste Natal saltaram-me para as redes do telemóvel pequenas frases, que os Musks que por aí dominam não gostam de escritos longos, ou computador adentro textos mais refletidos e elaborados a falar de esperança! Afinal, pensei, uma mensagem muito ajustada a este nosso tempo. Motivos para desencantos e frustrações proliferam e há o risco de se sobreporem à esperança de um futuro melhor, onde a paz e a solidariedade proporcionem um bem-estar generalizado.

Crises não faltaram nos últimos tempos: financeiras, socioeconómicas, sanitárias, enfim, para todos os (des)gostos. E, finalmente, a guerra. Que persiste, apesar de haver quem não queira usar a palavra. Talvez por ser tão cruel. Hoje como ontem. Horrores que alguns livros bem documentam e filmes testemunham. O risco de se perder a esperança é, pois, real. Persistem as memórias que nos apontam ao pessimismo. Não são moinhos de Cervantes. São bem reais. E mesmo quando já nos mostramos capazes de não viver as obsessões que as crises nos causaram há sempre uma comunicação social que se encarrega de o fazer. A necessidade de ocupar espaços noticiosos e satisfazer as exigências dos que compram minutos de publicidade a tal conduz. Algumas televisões especializaram-se no metier. Sabe-se lá se, num caso ou noutro, não haverá até outras causas que levam a isso!

Pois a mensagem de esperança, no Natal deste ano, em que, mais uma vez, se comemora o nascimento de Jesus, cujos pais não encontraram lugar na hospedaria e, por isso, recorreram a um abrigo de pastores, vem muito a propósito. A esperança que nos trouxe esse menino, Deus connosco - Emmanuel, que acompanha cada um na “história da libertação, no caminho da liberdade e da salvação”, como, com muita oportunidade, refere Anselmo Borges no DN do passado dia 24. Esperança que é também essencial para que haja futuro, que cada um, por si, e em conjunto sejamos capazes de construir.

 

O Museu do Douro fator de desenvolvimento da região

por vistodajanela, em 15.12.22

 

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Peço aos leitores deste meu Visto a melhor compreensão para o facto de aqui fazer referência a uma instituição a que me sinto profundamente ligado, o que, aliás, serviu de pretexto ao Prof. Fernando Pinto, Presidente do Conselho Diretivo da Fundação Museu do Douro, para me lembrar isso mesmo por ocasião das comemorações dos 25 anos da publicação da Lei nº 125/97, de 2 de dezembro, que cria o Museu da Região do Douro.

Constituiu clara e profunda preocupação, na génese do museu, que este viesse a ser um fator de desenvolvimento de uma região que, apesar do seu peso nas exportações agrícolas, pela importância do Vinho do Porto, mantinha índices de desenvolvimento bastante abaixo das médias europeia e nacional. Basta consultar as atribuições, tal como constam no artigo 6º. Ora, “Desenvolvimento é qualidade: no trabalho, no lazer, no ambiente residencial; desenvolvimento é um processo global e plurifacetado de mudança tendo em vista a qualidade de vida, animado pela solidariedade e justiça social, alimentado pela participação colectiva enquanto força de expressão e realização individual”, nas palavras de Raul Lopes. Por sua vez, cultura, na aceção da UNESCO, que se julga poder ser mais consensual, é «conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou grupo social. Ela engloba, para além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valores, as tradições e as crenças».

Neste sentido, é fácil reconhecer nas atividades que o MD tem vindo a desenvolver as marcas atrás enunciadas. Enquanto infraestrutura cultural, cria condições para fruir cultura, para valorizar aspetos da identidade da região e da comunidade que nela reside e trabalha, enfim, para interpretar o território duriense na sua riqueza plurifacetada. Mais ainda! Motiva a visita à região, de muitos que procuram património cultural e de outros que não dispensam conhecer melhor Francisco Laranjo (presente, neste momento, com uma exposição sobre a sua visão da região do Douro), ou Armanda Passos, no espólio que doou. De igual modo é gratificante constatar que o MD atraiu para a região quadros qualificados da área da cultura e fixou outros daqui naturais. De igual modo se constata que vêm ao MD investigadores consultar os seus arquivos. E revitaliza e divulga os saberes. Mas não resisto a lembrar como é importante ter um Serviço Educativo que vai à aldeia e entrevista a jovem pastora de Sambade, a única pastora que resiste. Porque, afinal, “a paisagem somos nós”.

Évora Capital Europeia da Cultura em 2027

por vistodajanela, em 10.12.22

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Li por aí! Confesso que não estranhei mesmo nada que a cidade de Évora tivesse visto aprovada a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura. Junta-se, assim, a Liepaja, na Letónia. 

Os meus parabéns.

Pessoalmente, achei muito natural. Já no final dos anos 90 do século passado, numa investigação, encontrei no site do Município o Plano Estratégico Cultural de Évora, onde pûde ler: «Em última instância, é por via de uma política cultural local ou regional que se pode garantir a criação cultural e a fruição de manifestações culturais que a industrialização e a quase mundialização da cultura, numa perspectiva de lucro e massificação, não pode, nem quer assegurar. É igualmente por essa via que se pode assegurar o estímulo dos laços de pertença a comunidades locais e regionais que a integração e a globalização tornaram mais urgentes.»