Brincar com o fogo
Se não é, parece. E o pior é que até ficamos com a impressão que anda muita gente nessa brincadeira. O mais provável …
No dia em que escrevo, recebi uma notícia via Sapo assim apresentada: «A Coreia do Norte testou mesmo uma bomba de hidrogénio? E o mundo deve ter medo?»
Claro que o dia 6 de agosto de 1945 já vai longe. A esmagadora maioria da população atual não viveu esse dia. Pertence à História. Mas integra a História de uma das guerras mais mortíferas e terríveis. Que terminou com duas bombas atómicas sobre duas cidades japonesas – Hiroshima e Nagasaki. Notícias veiculadas por outros meios afirmaram que a bomba de hidrogénio testada hoje tem uma potência dez vezes superior às de há 72 anos. A sua deflagração provocou um abalo de 6,3º da escala de Richter, segundo o Público online. Bom! O sismo foi sentido, de modo especial, na vizinha Coreia do Sul. Porque é este o alvo do regime norte-coreano. A arrogância, as atitudes caudilhistas, o Estado militarista que o Presidente daquele país pretende mostrar nos desfiles militares, numa zona do globo que se pode considerar em guerra eminente, exige prudência e bom-senso, mas também firmeza nas instâncias internacionais. Tudo isto é motivo para ver e analisar estes acontecimentos com grande preocupação. Ou duvida-se que, no Homem, o que o separa do animal é algo muito ténue. De um momento para o outro, a faceta animal, mais selvagem, instintiva, pode sobrepor-se à faceta humana, mais racional e prudente.
Em 2000, Kim Dae-Jung, Presidente da Coreia do Sul (1997-2003) foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. Precisamente pelos seus esforços na reconciliação da península da Coreia. Tive oportunidade de o ouvir manifestar as suas preocupações sobre a paz naquela região do globo, precisamente após uma visita à zona desmilitarizada (?) que separa as duas Coreias. Ainda antes de ter recebido tão importante insígnia. Mas a visita guiada que foi proporcionada às delegações presentes em Seul para participar numa Conferência Internacional sobre Agricultura, foi muito elucidativa. Antes de mais, da tensão que se vivia. Mas de igual modo, do estado de guerra latente, visível. A parte sul-coreana, a que nos foi dado visitar, estava dominada por um forte dispositivo militar. As barreiras de controle eram várias. No posto avançado de observação da Coreia do Norte mostravam-nos uma cidade do outro lado onde não se via sinal de qualquer tipo de vida, de movimento. Descemos por umas escadas a uma profundidade que não sei precisar, de momento (talvez 500 m), para ver um túnel por onde podiam transitar carros ligeiros de combate, armados, “para atacarem os exércitos sul-coreano e americano pelas costas”.
Os esforços daquele presidente não surtiram o efeito pretendido. O diálogo com os vizinhos do Norte foi mais tarde interrompido. Nas atuais circunstâncias, aquela pergunta com que iniciámos esta nota só pode ter uma resposta: claro. E não se brinca com o fogo.