Um ano de guerra, muitos gestos solidários
O aniversário que passou no passado dia 24, se nos lembrou o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, brutal como são todas as guerras, incompreensível e sem sentido também nos proporcionou a lembrança de que a solidariedade existe e pode ajudar a fazer deste mundo um sítio melhor para viver. A nós e aos outros, claro. Afinal, num mundo em que se tornou quase indispensável estar conectado com outros, é fundamental tomar consciência e assumir que todos fazemos parte deste mundo, que construímos, ou destruímos, a cada dia, com ações individuais e coletivas. É com esse sentido que se deve usar a palavra solidariedade, como uma grande rede em que todos podem dar e, ao mesmo tempo, estão aptos a receber. O objetivo é comum: fazer do mundo um lugar melhor para todos, independentemente de credo, cor, género ou classe social.
Se ano que passou foi pródigo em acontecimentos nefastos, em que os direitos humanos foram sistematicamente violados pelos invasores é sempre bom constatar o que de bom se foi fazendo em prol dos refugiados, dos deslocados, dos perseguidos e violados. Foram muitos e diversificados os gestos solidários. Na fuga à guerra, mas também na criação de condições para que a vida possa continuar nas suas próprias localidades. Concertos por cá, ou em cidades como Lviv, oferta do produto de vendas de músicas, o leilão de uma camisola CR7, iniciativas de estudantes de escolas, ou de cidadãos, simplesmente conscientes que este mundo é uma casa comum, onde todos temos o direito a viver com dignidade.
Pela proximidade e porque evidencia a capacidade de trabalho em rede, envolvendo o município, juntas de freguesia, empresas e cidadãos a título individual, julgo poder destacar o que aconteceu em Sabrosa. Um grupo de trabalhadores da Câmara Municipal organizaram-se, contactaram empresas, as juntas de freguesia e outras vontades de ajudar e prepararam uma viagem de 3 500 km até à fronteira da Ucrânia. Levaram em duas carrinhas de 9 lugares medicamentos e produtos de higiene. Trouxeram 13 pessoas, 10 mulheres e 3 crianças que a guerra obrigara a fugir. A Câmara havia preparado uma escola, onde já não havia aulas, para os receber e providenciou o apoio inicial. Ali encontraram a casa que haviam perdido e uma comunidade que as recebeu e apoiou. Fizeram os registos necessários nos respetivos serviços públicos e o contrato emprego-inserção proporcionou alguma estabilidade. Fez-se um mundo um pouco melhor.